Ruminante psíquico

Eu, ruminante psíquico,
sofro da bem-orquestrada
valsa neuroquímica
que me manipula a alma.

E, a cada verso,
alivia-se a batida rotina
que me encarcera em mim mesmo,
vítima de rompantes nucléicos,
do ócio agonizante
e dos pseudo-sentimentos.

Tráfego nas ruas encralacradas
do discurso maquínico
da formação de um sujeito
que imagino ser eu.

Porém, no fim da alquímica sentença,
na última valsa, regozijarei:
repousarei em medos e usuras,
desejando o que não desejo,
aliviando, com alucinógenos,
os minutos sem chão.

Com a troca de fluidos
entorpecê-lo-ei;
que, na fé do absurdo,
absurdoar-me-ia.

Navegando em fótons
e cores inexistentes,
seguindo, como a abelha ao pólen,
a tara por adentrar ofícios
nunca dantes conhecidos.

E direi, em plena idade:
— livrai-me de todos os males.