Eu

Moribundo errante dos Alpes,

ermião do sentido e da solidão —

descestes, acaso, do platô andino?


Assistes, impassível,

à formidável destruição

que causaste a uma alma formosa?


Deixaste que ela partisse

sem tocá-la uma última vez?

Ogro do Pantanal,

dos Chacos, das estepes mongóis —


Onde te escondes, tu?

Aquele que ceifou o cintilante

de um olhar sonhador...


Onde te escondes, tu?

Aquele que dilacerou sonhos

e sentimentos sublimes, inefáveis?


Te ocultas nas grotas dos Urais?

Nos escombros de Petra?

No califado de Omã?

Nos corredores do Louvre?

Onde te escondes, tu?


Penitência necessária,

estratagema ardiloso e pródigo —

do joio fizeste escritura,

de Tut foste aliado pacato.


Aos hititas te uniste,

na horda de Kublai Khan,

e nas moças de tenra idade

te debruçaste — faminto, audaz.


Esse desejo, que é ilusão,

arquitetou o sétimo véu de Blavatsky

e do elixir da vida te embriagaste.


Agora, errante por este miserável mundo,

por onde jamais deixarás de vagar...