Canta-me, Musa, o errante que não sabe seu nome.
Dize-me donde estou — se entre os vivos ou entre as sombras.
Qual pátria perdi, em que campo sagrado tombou minha honra?
Ergo meus olhos aos astros:
devo seguir ao fulgor do Sol,
ao anelado trono de Saturno,
ou às minaretes de longínqua Istambul?
Anjo faminto de ouro,
íncubo filho do céu,
dizei por que o mortal deseja
o que jamais lhe pertenceu.
Se paz proclama em palavras,
mas a guerra reside em seu seio,
é hóspede fraterno à mesa,
e carrasco secreto no leito.
Ó Caronte, senhor do remo sombrio,
tomarias meu óbolo e meu fôlego?
Levar-me-ias ao Tártaro ardente,
onde pássaros de fogo dilaceram a esperança
dos que cobiçaram a paz —
não por amor, mas por ganho?