O soneto “Iracema” revisita, de forma crítica e lírica, a personagem imortalizada por José de Alencar. Aqui, Iracema não é mais a virgem dos lábios de mel, símbolo da origem do Brasil, mas antes uma femme fatale mítica, ninfa que seduz e condena o amante.
A estrutura clássica — soneto de rimas bem ordenadas — contrasta com a febre das imagens: pólen, veneno, néctar, trevas. Essa tensão revela o duplo do amor-paixão: sacralização e destruição. Se Camões celebrou a transformação do amante em coisa amada, este poema mostra o amante reduzido a pó, vítima da ingratidão.
Há ecos do romantismo sombrio de Álvares de Azevedo e da intensidade amorosa de Florbela Espanca, além da melancolia cruel de Augusto dos Anjos. Iracema, aqui, ganha uma sobrevida simbólica: não mais origem de um povo, mas destino trágico do desejo.
Assim, o poema afirma que amar é sempre enfrentar o risco da morte simbólica, e que a paixão, ao mesmo tempo em que salva, também afoga.