Ode aos Pirineus

Ó, geometria sagrada, ao fim esse amálgama de átomos,

A terra retornará em remanso Ode aos Pirineus  s, cantos!

De alguma forma, eternamente ficará,

Seja na forma terrestre, seja vagando...


Como pode ser? Talvez seja um mistério,

Somos imortais não pela nossa significância,

Mas pela composição dessas retumbantes cadeias,

Orgânicas, carboníferas, ferrosas, barrentas, lamacentas.


Átomos, vitaminas e ácidos nucleicos,

Inexplicavelmente, de uma fornalha de supernova,

Derramam-se em lito-berçários, aglomeram-se,

Desenham e ajuntam, e ao pó retornarão.


A eternidade ficará, cada respiro,

Choro e felicidade, e por um suspiro geológico,

Vagou por essa rocha inundada,

Um legado eterno, em ciclos sem fim.



“Ode aos Pirineus” é um cântico cosmológico em que a matéria e o tempo geológico substituem deuses e mitos. Ao invocar a “geometria sagrada” e as cadeias atômicas, o eu-lírico reconhece que a eternidade não é privilégio da alma, mas da própria matéria que compõe cada ser.

Psicologicamente, o poema traduz uma forma de sublimação: diante da angústia da morte, o sujeito encontra consolo no ciclo eterno dos elementos. Freud diria que se trata de uma forma elevada de pulsão de vida; Lacan lembraria que a origem e o fim permanecem como um mistério impossível de simbolizar; Jung veria aqui o arquétipo da recorrência cósmica, onde cada vida é apenas um suspiro no tempo das estrelas.

Literariamente, o texto dialoga com Lucrécio e Drummond, mas também com Sophia de Mello Breyner Andresen. É uma ode à pequenez humana e, ao mesmo tempo, à grandeza de participar do eterno: os Pirineus como testemunhas geológicas de que nada se perde, tudo retorna.