Toque minha pele nua,
filho de Clímene —
arda com meu ódio
tinto, líquido, lambido,
que escorre em tuas vísceras.
Carregues o céu sobre teus ombros,
mas tempera tuas águas com meu sal:
sal das lágrimas,
dos gritos presos
nas Nêreas correntes.
Irineus de Luanda,
da costa do mar —
negai meu corpo
e os milhares
que vos alimentaram!
Aos cartilaginosos seres
que migram pela rota do horror:
tingiram, também, essas brânquias
com o vinagre da escuta.
Três vezes!
Negue-me.
Negra-me.
Esquecem-me —
no cemitério dos vivos.
Aos que viraram comida de tubarão —
as crianças,
as mães,
as tetas pretas...
O ranger da nau.
A pele nua
explodindo no espelho d’água.
O rubro que engoles hoje
é meu.
Os meus, no Valongo, chegarão.
Ocuparemos os morros,
as mares,
os noticiários.
E que essa maldição
sobre os teus descendentes recaia:
roube o riso,
transforme-o em pranto —
em cada corpo preto
que na vala comum
escondeste,
Caramuru!
- Velastes dez dos seus!