“Elegia da (In) Vasão” é um poema de denúncia que confronta o mito da “descoberta” do Brasil com sua realidade de invasão, genocídio e escravidão. O jogo semântico entre “vazão” e “invasão” revela como a violência colonial abriu as veias da terra e do povo, transformando nascente em sangue e futuro em cativeiro.
Psicologicamente, o texto dramatiza o trauma histórico da colonização. Em chave freudiana, é o retorno do reprimido — o navio, o porão, a escravidão. Em leitura lacaniana, é a tentativa de escrever o Real do país: a mentira fundante de uma “descoberta” que foi, de fato, massacre. Ao mesmo tempo, o poema projeta esperança: a oca, o parto e a oração a Francisco são símbolos de reinvenção possível.
Literariamente, o texto dialoga com a tradição da poesia engajada — de Castro Alves a Conceição Evaristo —, fundindo denúncia histórica, experimentação formal e oração coletiva. É uma elegia que não busca consolar, mas lembrar e acusar, transformando a palavra em ato político e espiritual.