Degredados

em

Réus,

eu e você.

Condenados,

julgados,

sentenciados.


Réus,

negligenciados,

náufragos,

refugiados

em nós, sós!


Ode que desce à terra,

albatroz que leve meu grito,

Deus dos desgraçados,

leve também meu fígado,

dia após dia,

minuto após minuto.


Desesperançoso,

escondo meu rosto,

envergonhado,

no balanço da proa.


A tempestade queima minha pele,

o sol enebria meus soluços,

e o batel segue sem destino,

degredados até o final dos dias.




  • Réus e Condenação

    • Referência à Justiça: A repetição das palavras "réus," "julgados," e "condenados" ecoa uma crítica social e à moralidade, remetendo a obras como "O Processo" de Kafka, que trata do absurdo do sistema judicial.

  • Negligenciados, Náufragos e Refugiados

    • Sofrimento e Isolamento: Esses termos evocam a condição de marginalização e abandono, semelhantes ao que é discutido em obras de autores como Jean-Paul Sartre, que exploram a angústia existencial.

  • Albatroz

    • Referência a Castro Alves: O verso "albatroz que leve meu grito" é uma referência direta ao poema "O Albatroz" de Castro Alves, que aborda a luta e o sofrimento do ser humano. O albatroz simboliza a liberdade perdida e a aspiração por algo maior.
    • Simbolismo Literário: A imagem do albatroz também pode conectar-se a temas de liberdade e a condição do artista, como em "O Mar" de Jorge de Lima, onde os elementos naturais refletem os estados internos.

  • Deus dos Desgraçados

    • Referência à Literatura Social: A invocação do "deus dos desgraçados" reflete a tradição de poetas românticos e sociais, como Castro Alves, que aborda a luta dos oprimidos e a busca por justiça e compaixão.

  • Desesperança e Vergonha

    • Desespero Existencial: Essa temática pode ser vista em obras de Fernando Pessoa, que exploram a condição humana, a identidade e o sentimento de inadequação.

  • Tempestade e Sol

    • Elementos Naturais: A tempestade simboliza conflitos internos e crises emocionais, enquanto o sol pode representar tanto esperança quanto dor. Esta dualidade é recorrente na literatura, como em "O Guarani" de José de Alencar, onde a natureza reflete o estado emocional dos personagens.

  • Degredados e Destino

    • Destinos Inescapáveis: A expressão "degredados até o final dos dias" pode remeter a narrativas de exílio e de desespero, como em "A Moreninha" de Joaquim Manuel de Macedo, onde os personagens enfrentam suas próprias inevitabilidades.

  • O Grito e a Existência

    • Sofrimento e Libertação: O grito, como um apelo à liberdade e ao reconhecimento, é um tema comum em diversas obras literárias, evocando desde o romantismo até o existencialismo. Essa ideia também ressoa em poemas de poetas como Adélia Prado, que lidam com a busca de voz em um mundo opressor.