Hei, eles hão!

Do verbo, 

núcleo que escorre pelo corpo nu...

Sintagmas vociferantes,

sussuram pelo teu olhar...

- Analisar-se-ão!


Cacoetes de alma penada,

dores de derme imunda

que inunda o hall do ser

- Analisar-se-ão!


Espalhe as tais ramas semânticas

espalhe as ramas entorpecidas

no canhamo da existencia crioula:


- Hei de prostar

- Hei de tatear

- Hei de farrar

- Hei e eles hão!



1. Linguagem e Gramática: Diálogo com Saussure

O uso de termos como "núcleo", "sintagmas" e "ramas semânticas" remete a Ferdinand de Saussure, cujas teorias sobre a linguagem fundamentam a análise linguística moderna. A importância da estrutura verbal sugere que a linguagem é um meio crucial na construção da identidade e do ser.

2. Temas Existenciais: Reflexões de Sartre

A frase "do hall do ser" evoca questões existenciais comuns na obra de Jean-Paul Sartre, especialmente em O Ser e o Nada, onde se discute a essência da existência humana. A ideia de "analisar-se-ão" enfatiza o processo reflexivo de autocompreensão.

3. Poesia Marginal e Pós-Modernismo: Ecoando Hilda Hilst

O tom crítico e a linguagem provocativa lembram a poesia de Hilda Hilst e Adélia Prado, que abordam a corporeidade, o desejo e a crítica social. O uso de uma linguagem desafiadora e imagens vívidas refletem a influência da poesia marginal brasileira dos anos 1970.

4. Elementos de Cultura Afro-Brasileira: Resistência Cultural

A expressão "canhamo da existência crioula" remete à cultura afro-brasileira e sua luta histórica. Essa conexão evoca a obra de Conceição Evaristo, que explora a identidade e a resistência afrodescendente, e reforça a importância da herança cultural.

5. Influência do Surrealismo: Onírico como Breton

Imagens como "cacoetes de alma penada" e "dores de derme imunda" refletem a estética surrealista, semelhante às obras de André Breton e Paul Éluard, que buscavam explorar o inconsciente e o onírico. Essa abordagem poética traz à tona aspectos reprimidos da condição humana.