Cara de gato,
menino mandu, moringa em bilha, marimbondo com pus.
Cara de gato, menina caçula, capenga e coxa, cachaça pra tu
Cara de gato, menino, meu dengo, cochila, dormita, bunda, rabo e mandengo
Cara de gato, menina mandu, dengo e mimo, trasorelho e caxumba, Jesus!
Cara de gato, menino caçula, carimbo, sinete, lenga-lenga que seduz?
Cara de gato, menina dengo, xingar, insultar, lenga-lenga na cruz!
Cara de gato, menino mandu, Quem te pariu,
que de assuma e que te dê caruru.
que te dê caruru!
1. Folclore e Cultura Popular
A expressão "cara de gato" pode remeter a expressões populares e folclóricas, evocando uma linguagem coloquial que se refere a características físicas ou comportamentais. O uso de termos como "menino mandu" e "menina caçula" sugere uma conexão com a cultura popular brasileira, onde expressões e personagens típicos são comuns.
2. Referências à Infância e à Simplicidade
O poema exalta a simplicidade e a inocência da infância. A repetição do formato "cara de gato" pode ser uma alusão à maneira como crianças são descritas carinhosamente. Essa relação remete a poetas como Cecília Meireles, que frequentemente exploram a infância e suas nuances em obras como Romanceiro da Inconfidência.
3. Literatura de Cordel
A estrutura rítmica e repetitiva do poema lembra a literatura de cordel, uma tradição popular nordestina, que utiliza rimas e ritmos para contar histórias e expressar sentimentos. A referência a elementos como "cachaça" e "caruru" reforça essa conexão, visto que esses temas são comuns nas narrativas de cordel, como nas obras de Patativa do Assaré.
4. Referências Religiosas
O uso de "Jesus!" no verso pode ser interpretado como uma invocação, que traz um tom de leveza e humor, ao mesmo tempo que insere uma dimensão religiosa que ecoa a presença de figuras sagradas em diversos poemas da literatura brasileira. Essa invocação lembra a obra de Adélia Prado, que frequentemente mistura o cotidiano com o espiritual.
5. Regionalismo e Linguagem Dialetal
A linguagem coloquial e regional, com expressões como "trasorelho" e "cachaça pra tu", sugere uma intertextualidade com o regionalismo da literatura brasileira, que busca capturar a essência do falar popular. Isso pode ser associado a autores como João Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, que exploraram as particularidades da linguagem regional e suas nuances.