Pretoguês

A música que me alimenta é preta,
o gol que me incendeia é preto,
meu cabelo é liso e meio crespo,
as lágrimas, gotas de ferro negro!

Minha agonia é miscigenada,
Minha ignorância é metódica, danada!
Meu medo é de escuro,
minha moral é contra esses "vagabundos".

Meu bairro é de sem-teto,
meu trabalho, esmola parda,
minha cidade, campo de extermínio,
meus amigos, hoje, todos escondidos.

Minhas mãos com sangue preto,
meu discurso lhe condena ao gueto,
minha estética, branca esturricada,
minha norma padrão, não aceita teu dialeto!

Meu sangue é vermelho,
e minha alma é de novo preto,
meus versos, gritos de socorro
já que o universo é negro, moço!





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