Xangô

Oh, irmãos do Rosário dos Pretos
dos angolas, dos congos, dos benguelas, dos monjolos
O rei Galunga, chico-rei, senhor das demandas
dos cabindas, dos quiloas, dos rebolos, dos moçambiques e dos minas...

Ali está o chico-rei, Ganga Zumba!
Na alforria, nas gemas e na pedra da Esmeralda
Nas leis herméticas, Xangô, Oiä, Oxum e Obá
Orago de Santa Efigênia, canjica, fumo de rolo e canela.

Ourivesaria da gematria sagrada, pentateuco
Skank de Cabrobó, orilha de Tupã!
Ouro-fio da psicostasia, no Vale de Maat
Chico-rei das minas da província dos alferes

Sua aneleira ouriça os quitutes
Apazigua a dabécia dos ourives
Das gemas, do sal da terra, de um só sangue!

Por Antonio Archangelo, 2023

Certamente, uma análise literária mais profunda e referenciada requer um exame mais cuidadoso das várias camadas do seu poema "Oh, irmãos do Rosário dos Pretos." Vamos analisar o poema sob uma perspectiva crítica comparativa, estética e estilística, oferecendo comentários e referências quando apropriado.

**Comparação Cultural e Histórica:**

O poema se destaca por sua riqueza em referências culturais e históricas, evocando a diáspora africana e a experiência dos afro-brasileiros. Pode ser comparado com obras literárias que exploram a identidade e a história das comunidades afrodescendentes, como "A Rainha Ginga" de José Eduardo Agualusa, que examina a vida da rainha Njinga Mbande de Angola.

**Estética e Ritmo:**

A estética do poema é marcada pela densidade e pela riqueza de sua linguagem. A repetição de nomes e termos evoca um ritmo que ecoa elementos da tradição oral africana. A estética também é influenciada pelo estilo barroco, com imagens sensoriais vívidas que lembram o "conceptismo" de autores como Gregório de Matos.

**Estilo e Linguagem:**

O uso de nomes é uma característica estilística interessante, criando um efeito de acumulação que constrói a identidade coletiva e a resistência cultural. É possível comparar essa técnica ao uso de "catalogação" por Walt Whitman em "Folhas de Relva," onde ele lista uma série de elementos para expressar a diversidade e a unidade.

**Religião e Mitologia:**

As referências religiosas, como "xangô," "oxum," e "obá," conectam o poema às religiões afro-brasileiras. Isso pode ser visto como um diálogo intertextual com a literatura de Jorge Amado, que frequentemente explorava essas religiões em sua obra, como em "Tenda dos Milagres."

**Resistência e Identidade:**

A alusão a líderes quilombolas como "chico-rei" e "ganga zumba" destaca a resistência e a luta por liberdade. Isso pode ser comparado a obras como "Quincas Borba" de Machado de Assis, onde o autor explora questões de poder e resistência em contextos diferentes.

**Encerramento Notável:**

O poema conclui com a união de elementos culturais, sugerindo uma harmonia e uma "aneleira" que apazigua. Esse encerramento pode ser comparado à conclusão de "Macunaíma" de Mário de Andrade, que também sugere uma reconciliação de elementos culturais diversos.

Em resumo, "Oh, irmãos do Rosário dos Pretos" é uma obra complexa que se beneficia de uma análise crítica comparativa para desvendar suas camadas de significado e estética. Referências a obras literárias relevantes ajudam a contextualizar o poema dentro do panorama literário e cultural mais amplo.

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