República Mequetrefe

Decapitado o rei
Estava lá ela de barrete frígio
Leme e a lança na mãos
Gêmea de Marie Deschamps

Ó liberdade, 
quantos crimes se cometeram em teu nome?

Esculpida Marianne
refúgio, cidade, lar,  
familia e mãe,
empunhada com sua baioneta calada...

Ó liberdade, 
quantos crimes se cometeram em teu nome?

Delacroix a Rudé:
maternal e sólida,
presente de Bartholdi,
encarnada Isabel - a Redentora!

Ó liberdade, 
quantos crimes se cometeram em teu nome?

Tomaram-lhe seu barrete,
Atenas abandonada,
Morimbunda republiqueta
a sombra da terra da prata!

Ó liberdade, 
quantos crimes se cometeram em teu nome?

Senhores de escravos, gritai-vos por indenização!
Na carnefícina do ventre tupi
das preces das tetas pretas
do Grão Pará ao Iguaçu!

Ó liberdade, 
quantos crimes se cometeram em teu nome?

Gritais Quintino Bocaiúva - 
o boca de uva -
na res pública a pobre donzela,
oprimida pela tirania suspirou:

Ó liberdade, 
agora, Roxanne?
de Cyrano de Bergerac,
na Rua da Carioca, se prostou:

D'Eu!!

Por Antonio Archangelo, 2023


Comparação entre a Revolução Francesa e a Instauração da República no Brasil: Uma Análise Literária e Histórica em "República Maquetrefe"

O poema "República Maquetrefe" de Antonio Archangelo nos convida a uma jornada pela história e política, estabelecendo uma rica comparação entre a Revolução Francesa e o Golpe militar que instaurou a república no Brasil. Através de referências literárias e características de escolas literárias, o poema traz à tona questões profundas sobre ideais, símbolos e a realidade política em ambos os contextos históricos.

1. Marianne e a Transformação em Roxanne:

  • O poema começa com a imagem de "Marianne," uma alegoria feminina associada à Revolução Francesa. Marianne personifica os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
  • A transformação de Marianne em "Roxanne" no Brasil sugere uma transição dos ideais revolucionários para uma realidade mais complexa e muitas vezes sombria. Essa metamorfose pode ser comparada à transição da Revolução Francesa para um período de incertezas e desafios na França.

2. Crítica Social e Exploração:

  • O poema critica a exploração e a opressão em ambos os contextos históricos. Menciona os senhores de escravos que buscam indenização no Brasil, enquanto ignoram as realidades das populações nativas e afro-brasileiras.
  • Essa crítica ecoa os temas de injustiça social e racial presentes em obras universais como "Os Miseráveis" de Victor Hugo, que também aborda a exploração e a desigualdade na sociedade.

3. O Uso de Referências Literárias:

  • A referência a "Roxanne" do The Police e a sombra de Cyrano de Bergerac acrescentam uma camada de ironia e questionamento ao poema.
  • Isso lembra o uso da ironia em obras da literatura universal, como as comédias de Molière, que frequentemente satirizam a sociedade e seus valores.

4. A Representação de Figuras Históricas:

  • O poema menciona Gastão de Orléans, Conde d'Eu, que desempenhou um papel notável nas batalhas da Guerra do Paraguai. Sua presença no poema lembra a influência de figuras históricas em obras como "Guerra e Paz" de Tolstói, onde personagens históricos se entrelaçam com eventos cruciais.

5. A Crítica à Política Café com Leite:

  • A menção a Quintino Bocaiúva como "o boca de uva" sugere uma crítica política à época da República Velha e à influência do café com leite na política brasileira.
  • Isso pode ser comparado a críticas à corrupção política e à influência de poderosos em obras como "O Primo Basílio" de José Maria de Eça de Queirós, que também exploram os aspectos sombrios da sociedade.

Em "República Maquetrefe," Antonio Archangelo tece uma tapeçaria literária e histórica que nos convida a refletir sobre as complexidades da história política, enquanto emprega elementos literários e referências universais para aprofundar a crítica e a análise desses momentos cruciais na França e no Brasil.


Comentários